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21fev17
20 anos sem Darcy Ribeiro
Há duas décadas o Brasil perdia um de seus grandes pensadores e defensores dos povos indígenas. O Instituto Socioambiental - ISA presta aqui sua homenagem.
Eis a homenagem
"Quem sou eu? Às vezes me comparo com as cobras, não por [ser] serpentário ou venenoso, mas tão só porque eu e elas mudamos de pele de vez em quando. Usei muitas peles nesta minha vida já longa, e é delas que vou falar", escreve Darcy Ribeiro no livro O Brasil como Problema (1995).
Nascido em 1922 na cidade de Montes Claros (MG), assumiu sua primeira pele como filho da professora Mestra Fininha e do farmacêutico Reginaldo. Entrou na vida profissional como antropólogo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), contribuiu para a criação do Parque Indígena do Xingu (MT), fundou o Museu do Índio no Rio de Janeiro.
Escreveu uma vasta obra, colaborando com estudos para a UNESCO e a Organização Internacional do Trabalho. Embora tenha se tornado, a partir dos anos 50, referência nacional indigenista, Darcy considerava que tinha feito "alguma coisa pelos índios, como criar o Parque do Xingu", mas fazia questão de enfatizar: "eles fizeram muito mais por mim, eles me deram a dignidade", em entrevista concedida ao programa Roda Viva, em 1995.
Darcy atuou, também, como educador, político e romancista. Sob essas peles, organizou o primeiro curso de pós-graduação em Antropologia do Brasil, criou e virou o primeiro reitor da Universidade de Brasília (UnB), foi ministro da Educação e chefe da Casa Civil do Governo João Goulart. Com o golpe militar de 1964, teve seus direitos políticos suprimidos e foi para o exílio.
Em 1976, de volta ao Brasil, retomou todas as suas peles de uma vez só. Apareceu em público novamente apenas em 1978, em uma reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) que aconteceu na Universidade de São Paulo (USP). Nela, discutiu a situação dos índios no Brasil ao lado de Dom Tomás Balduíno (então presidente do Conselho Indigenista Missionário, o CIMI), do antropólogo norte-americano Shelton Davis (autor do clássico livro Vítimas do Milagre) e da antropóloga Carmen Junqueira (PUC-SP), em uma mesa coordenada por Beto Ricardo, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA).
Beto, também antropólogo, destaca a falta que Darcy Ribeiro faz na cena brasileira atual, "na qual os direitos indígenas, sobretudo os territoriais, estão ameaçados de retrocesso, pelo desmonte da Funai e por iniciativas no Legislativo Federal". Hoje é o dia que marca os 20 anos da morte dessa figura importante para a história brasileira que, em cada uma de suas peles e excepcionalmente em todas elas, lutou pela educação popular, pela liberdade e democracia no país, e foi uma peça fundamental para conferir visibilidade aos povos indígenas e construir um modelo de indigenismo baseado na proteção do Estado.
Darcy Ribeiro dizia que não tinha medo da morte: "A morte é apagar-se, como apagar a luz. A vida vai se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás com o passado é a morte. O que está vivo vai adiante". O legado de Darcy permanece vivo.
À venda em livrarias, Diários índios: os Urubus-Kaapor registra a riqueza cultural das aldeias Kaapor de forma apaixonada. Embora essenciais para a formação em etnologia e para quem se interessa pela temática indígena, obras como Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno e Kadiwéu: ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza estão atualmente fora de catálogo. Ainda assim, merecem ser pesquisadas em sebos e bibliotecas por oferecer uma leitura digna de ser revisitada pelas novas gerações.
[Fonte: IHU Adital, São Leopoldo, Rio Grande do Sul, 21fev17]
This document has been published on 22Feb17 by the Equipo Nizkor and Derechos Human Rights. In accordance with Title 17 U.S.C. Section 107, this material is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving the included information for research and educational purposes. |